Minha preparação para o concurso do INSS

Tenho recebidos várias mensagens pedindo para que eu conte como foi a minha preparação de estudos para o concurso do INSS. Por mais que eu diga que não sou um especialista em organização e técnicas de estudos (nem terminei de ler o livro do William Douglas, por exemplo, hehehe, mas ainda vou ler ele todo, preciso de tempo) o pessoal quer saber qual era minha rotina.

Então, vamos lá! Hoje eu acordei inspirado e com vontade de escrever, então a história vai ficar longa e enfadonha, para facilitar a tua vida, concurseiro/leitor, já que eu sei que você não gosta de perder tempo, tempo é ouro nessa altura do campeonato, pode pular alguns parágrafos e ir para a parte que está em negrito já no fim do post, lá você vai encontrar o que é importante: quadro de horários, média de estudos diários e blá blá blá. O texto está sendo escrito, mais para mim, do que para você, leitor. Aí você pensa “porra, então por que tais publicando essa merda?” sei lá, não tenho diário.

Pois bem, a história começa no meu tempo de colégio (e agora você pensa “puta que pariu, vai ser longa mesmo”). É importante começar por aqui, porque, de início quero quebrar um estereótipo de que filho de professor tem que ser estudioso desde criança, deve ter gente achando que meu presente de aniversário de um ano foi o Manual de Direito Previdenciário 1ª edição autografado pelo meu pai. Bem, não foi! Acho que muito se deve ao fato de meu pai não ter escrito o livro na época (é, eu pareço ter 15 anos, mas já tenho 23, ok?!), porque, se não, teria sido meu presente mesmo. Não, brincadeira! Quer dizer, não sei... ele me deu um dicionário Aurélio de umas três mil páginas quando eu tinha uns oito anos.

Então, como eu dizia, nossa história começa no meu tempo de colégio. Devido a uma série de problemas emocionais na época da minha adolescência, estudar era uma das últimas coisas que se passava na minha cabeça durante a época. Eu era viciado em um jogo de computador chamado Ragnarok (se tiver algum concurseiro com menos de 25 anos lendo esse texto, já deve ter ouvido falar, ou talvez até já tenha jogado e compartilhe dos mesmos problemas psicológicos que eu tenho hahaha), de modo que, minha vida era ir para escola e depois chegar em casa e jogar essa porra o resto do dia, minhas notas eram péssimas.

Durante o ensino médio eu quase reprovei o primeiro ano, quando digo quase, é quase mesmo, só não reprovei porque a escola tinha um programa de “dependência” (para não perder os alunos que reprovassem [já que a maioria que reprova quer sair]. Assim, eles continuariam na escola, pagando a mensalidade e mantendo os donos ricos. Bendito capitalismo, se não eu ainda estaria no ensino médio!). Bem, você podia reprovar até duas cadeiras, que ficava em “dependência” nelas e passava para o ano seguinte.

Obviamente, depois de ter passado pelo sufoco de quase reprovar, eu aprendi a lição e, no meu segundo ano de ensino médio, eu continuei sem estudar e fui para dependência de novo. A lição que eu tinha aprendido era que eu podia continuar sem me esforçar que mesmo assim eu passaria no fim do ano hahahaha.

Bem, toda essa falta de interesse nos estudos durante o ensino médio foi devida a um problema sério que tive com cocaína (MENTIRAAAA, essa parte é brincadeira, tá gente? Se não essa postagem viraliza e amanhã dá na Folha Dirigida “filho do professor Hugo Góes é viciado em drogas). Mas a história de superação seria muito mais foda se fosse isso né? (incrível como história de superação vende bem). Na verdade, hoje eu julgo que minha falta de interesse nos estudos nessa época, principalmente, foi decorrente de uma depressão (que tenho até hoje, já tive muita vergonha de admitir isso, porém, não mais, busquei ajuda e hoje estou muito melhor graças a Deus e a minha psicóloga e meu psiquiatra hahaha).

Ainda no tema depressão (eu não me contive e precisei escrever um parágrafo só sobre isso), é incrível como o assunto “saúde mental” ainda é um tabu na sociedade, se você diz que vai para psicólogo, ou que toma remédios, daqueles tarja preta, vai ser imediatamente taxado de doido, vai sofrer bullyng e não vai comer ninguém (me desculpem pela expressão os leitores mais conservadores ou as feministas, é que eu gosto de escrever sem frescuras e não procuro termos politicamente corretos). Então, eu gostaria de deixar registrado um texto que me ajudou muito, escrito pelo William Douglas (clique aqui para ler) falando sobre o tema. Aliás, se acontecer algo muito muito muito improvável e “o guru dos concursos” estiver lendo esse texto agora, gostaria de dizer: “Dr. William, vossa excelência é supimpa!” (minha vontade mesmo era dizer “William, tu é foda, tu é o cara!” mas não posso dizer isso a um juiz federal).

Bem, lendo o citado texto, cheguei a duas conclusões: uma é que os problemas emocionais não escolhem cor, classe social ou status para “chegar junto”, no texto você tem a oportunidade de ler sobre um homem poderoso, inteligente, bem sucedido e admirado por milhares de pessoas, admitir que já teve depressão. A outra conclusão a que cheguei é que a sociedade não tem muito espaço para quem está com problemas, nós vivemos uma “ditadura da felicidade”, você abre o seu Facebook e tem lá um monte de gente bonita, feliz, saudável e sem problemas, só grandes vitoriosos. Aí você pensa na tua vida e chega a conclusão “puta que pariu, eu sou o cara mais infeliz do mundo”.

Mas, na verdade, pode ter certeza, você não está sozinho (a), cara (ou moça), tem muita gente que está infeliz, insegura, com a auto estima baixa, o problema é que essa grande hipocrisia da “ditadura da felicidade” não nos deixa perceber as pessoas como elas estão de verdade, apenas como elas gostariam de estar. Talvez, por eu ter passado num concurso público concorrido, já ter independência financeira com 23 anos e estar começando a ter uma certa influência nas redes sociais (mas olha só que cara prepotente hahaha), algumas pessoas possam me admirar. Por isso mesmo, que tinha a necessidade de escrever um parágrafo abertamente sobre o assunto, que agora já são três (você percebe o nível do problema de saúde mental da pessoa quando esse tema vira a maior parte de um texto que era para abordar a metodologia de estudos). Pronto, encerrei por aqui, agora voltemos ao meu ensino médio.

Então, terminei o ensino médio me arrastando, para você ter noção, no terceiro ano fui para a chamada “prova final” em todas as matérias (mas aí você tem que ter em mente que só os melhores vão para a final). Fiz o vestibular para Filosofia (outro sintoma de loucura) e, apesar da minha falta de base nas matérias do ensino médio, e da concorrência expressiva (1,6 pessoas para uma vaga), passei em meu primeiro concurso público. Graças a essa aprovação tive argumentos para pedir um ponto ao meu professor de Física, se não eu iria reprovar. Tive que ir para o conselho de classe (os alunos problemáticos e que estão para reprovar vão para ele) e lá, os professores poderiam discutir entre eles a opinião sobre mim (péssimo estudante e que não vai muito longe na vida, era unânime). Apesar de todas as dificuldades do caminho, estava eu, aprovado, num curso tão concorrido quanto, sei lá, Geologia, Estatística, Matemática, Física... e os professores me passaram de ano e eu poderia realizar o meu grande sonho: deixar a barba crescer até a altura do peito e passar o dia sentado e filosofando sobre a existência humana.

Só que, quando entrei no curso de Filosofia, me deparei com três grandes problemas: o primeiro deles, e mais sério, era que eu não tinha barba (e até hoje não tenho); o segundo era que o curso não era só ficar sentado e pensando sobre a existência humana, você tinha que estudar, e estudar pra caralho e, até então, eu não gostava de estudar para caralho; o terceiro era que, se eu não estudasse muito para virar um doutor na área, eu não ganharia muito dinheiro. Na época eu não me importava com a ideia de não ganhar muito dinheiro, porque “o importante era ser feliz”. Só que eu queria sair de casa e ter minha independência financeira, eu queria ter um carro, eu queria poder viajar para um lugar legal nas férias, e aí eu descobri que felicidade não podia comprar essas coisas, hehehe.

Foi então que eu tomei a decisão mais acertada da minha vida, decidi largar o curso de Filosofia (em menos de três meses) cheguei no Prof. Hugo Góes e disse: “Pai, eu quero fazer Direito, paga minha faculdade” hahahaha. Nessas horas ser filho de um professor famoso te ajuda a escrever a sua própria história de superação. Meu pai, que sempre se importou com os meus estudos e meu futuro profissional, obviamente não negou o meu pedido, e de quebra ainda me emprestou dinheiro para que eu comprasse um carro hahaha.

E foi no curso de Direito que finalmente eu comecei a gostar de estudar, quanto mais eu aprendia sobre como funcionava a sociedade mais eu queria saber, me sentia inteligente, tipo aqueles caras intelectuais que falam coisas que te fazem ficar pensando. Então, eu estava num curso conceituado, tinha um carro e tinha o dinheiro da minha “mesada” para gastar. Porra! O que mais um moleque de 19 anos poderia querer da vida?

Mas, na verdade, eu estava com uma puta de uma crise existencial, porque tudo que eu tinha foi em decorrência do suor dos meus pais, não tinha conquistado nada com meu próprio trabalho até então (salvo um concurso de redação na escola), eu era um playboyzinho mimado que sempre teve tudo de mão beijada na vida (graças a Deus, até hoje a vida tem me dado muitas oportunidades que a maioria das pessoas não tem). Ok, mas eu não queria ser esse cara, eu queria (e quero) construir algo com o meu esforço, com o meu suor.

E foi aí que, num dos dias mais iluminados da minha vida, eu peguei, sem muita pretensão, o Manual de Direito Previdenciário (4ª edição) que meu pai tinha me dado. Abri o livro e li a dedicatória (estou com ele aqui do meu lado, está todo riscado e a capa está rasgada, vou transcrever do jeito que está):

“Para o meu filho Leon,

Apegue-se ao estudo! Dele depende o seu futuro. Recebi esse conselho do meu pai. Repasso para você. Use e depois repasse para os seus filhos.

Recife, 13/03/2011.

Hugo Góes”

Eu me arrisco a dizer que esse foi o melhor presente que já ganhei na vida. Não o livro isolado, mas o livro com essa dedicatória.

É de conhecimento público que meu pai é um grande professor de Direito Previdenciário e muda a vida de milhares de pessoas todos os anos transmitindo o seu conhecimento. Mas, deixo aqui um depoimento de um “insider”, ou seja, alguém que está por dentro dos bastidores. Meu pai também é um grande educador fora da sala de aula, mesmo a distância (meus pais são divorciados e eu não moro com ele) ele soube passar os conselhos certos para que eu não quisesse ficar na zona de conforto e ser apenas mais um garotinho mimado e dependente dos pais, ele soube despertar em mim o desejo de ser independente, de caminhar por conta própria, e isso não é todo pai que consegue.

Foi com aquele livro, por ironia do destino tinha sido alguém próximo a mim que havia escrito, que cheguei a conclusão: “O concurso do INSS está próximo, eu tenho nas mãos o livro que é a principal matéria do certame. Vou estudar para essa porra!”

Bem, passei no concurso. Escrevi tudo isso para dizer que nunca é tarde para começar a estudar, não importa o que as pessoas pensam de você, o que importa é o que você pensa de você mesmo, é onde você quer chegar, se acredita que consegue chegar e se está disposto a pagar o preço que tem que pagar.

Se você se identificou com a parte de playboyzinho mimado, cara, tamo junto! Mas, na boa, as coisas tem bem mais graça quando você conquista com o próprio suor.

E agora você, leitor que pulou todos esses parágrafos chatos em que apenas fiquei falando da minha vida pessoal, pode voltar a ler daqui. Para os que leram tudo... véi, parabéns pela força de vontade! Hehehe.

Eu fazia a faculdade de Direito à noite e tinha todo o resto do dia para estudar. Comecei a preparação mais ou menos no final de julho, se não me engano o concurso já estava autorizado, se não estava, saiu a autorização logo depois.

Logo no começo, como não tinha ainda o pique de estudos, fazia algo em torno de duas ou três horas por dia. Só que, como eu sou uma pessoa um pouco maníaca (bem maníaca na verdade), essas três horas foram virando cinco, seis (e aí eu credito essa obsessão compulsiva pelas coisas que estou me dedicando ao Ragnarok, foi lá no joguinho que aprendi a me viciar numa coisa e esquecer completamente o resto do mundo, se você pulou direto para essa parte ficou sem entender, toma aí, quem manda ser apressado ahahaha). Bem, durante a preparação, uma crise de coluna me fez perceber que não dava pra esquecer completamente de tudo e pelo menos da minha saúde eu tinha que cuidar, aí eu voltei para a academia.

Material que utilizei:

Os livros foram o Manual de Direito Previdenciário, Hugo Góes, Resumo de Direito Constitucional Descomplicado, Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, Resumo de Direito Administrativo, Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, Nova Gramática da Língua Portuguesa para concursos, Rodrigo Bezerra e Informática Para Concursos, João Antônio.

Vídeo aulas, baixei todas no site “Eu Vou Passar” que por sinal tem uma proposta show de bola, material barato e de extrema qualidade. Aliás, muito obrigado João Antônio, grande parte da minha aprovação se deve ao Eu Vou Passar! (e não estou falando isso porque você é meu amigo no Facebook e pode ser que leia esse texto, estou falando de coração mesmo, parabéns pelo trabalho que você faz!)

Questões eu resolvia no site Questões de Concurso (não faço a menor ideia de quem seja o pessoal por trás do site, mas parabéns, vocês também fazem um trabalho fodástico!)

Professores de vídeo aulas, dou um destaque para Sylvio Motta (Direito Constitucional) e Leandro Macedo (Direito Administrativo), vocês dois também são foda! (Leandro Macedo, se por acaso você estiver lendo esse texto, muito obrigado pelas vídeo aulas, eu ri muito com elas e só comecei a entender Direito Administrativo depois que as vi).

Divisão do horário de estudos:

Segunda feira – Direito Previdenciário

Terça feita – Direito Administrativo

Quarta feira – Direito Constitucional

Quinta feira – Português

Sexta feira – Informática

Sábado – Direito Previdenciário

Domingo – Descansava e dava atenção à minha namorada para ela não me trair.

Não, eu não estudei Raciocínio Lógico, mas não indico a fazerem o mesmo. Esse concurso vai ser concorrido para caralho, aparentemente o nível de RL cobrado pelo Cespe/UnB é bem mais alto que o cobrado pela FCC, então, estudem essa matéria meus colegas!

Metodologia por matérias:

1º passo: ler o capítulo do livro referente a um tópico do edital.

2º passo: resolver questões do assunto.

3º passo: assistir vídeo aulas do assunto.

Quando concluía os três passos partia para o assunto seguinte.

O resultado da história toda vocês já sabem. Fui aprovado em segundo lugar para a APS Caruaru – PE (só tinha uma vaga de cara), fiquei puto, revoltado, se tivesse colocado para outras agências teria entrado dentro das vagas. Mas Deus sabe o que faz e fui chamado depois. Hoje sou servidor do INSS, já vou fazer três anos de casa (quase veterano)

Então, acredito que é isso, já escrevi demais, estou na quinta página aqui no Word, já são 14h da tarde e eu ainda não almocei, se você leu o texto inteiro deve ter levado, sei lá, 30min, mas eu demorei umas cinco horas escrevendo, então não me xinguem se ficou ruim, fiz com carinho hehehe.

Por último, como eu disse no começo da postagem, não sou especialista em organização e técnicas de estudo, só estou colocando a metodologia que usei porque muitas pessoas pediram. Mas, credito bem mais a minha aprovação ao fato de minha vida ser desinteressante (e por isso não tinha muitas coisas para me levar a não estudar), à minha obsessão por uma coisa quando estou realmente focado e ao meu tempo livre para estudar do que à essa metodologia, portanto, recomendo que encontre a sua própria forma de estudar.

Abraços e bons estudos!