História dos aprovados - Samyle

Olá, pessoal! Tudo bem? Estou aqui invadindo o blog do meu amigo Leon (lembrei daquelas invasões que o povo fazia no perfil do amigo/namorado no orkut antigamente, era ridículo!) para compartilhar um pouco da minha "breve" vida deconcurseira. Estou com a sensação de que serei apontada como Justin Bieber ou Andressa Urach, que acham que suas vidas são interessantes o suficiente para se transformarem em livros - SÓ QUE NÃO -, mas eu juro que essa não é a intenção e que eu só desejo que minha experiência pessoal contribua de alguma forma com a sua própria trajetória em busca do seu tão sonhado cargo público. 

Então, vamos lá! 

Me chamo Samyle, tenho 22 anos, sou Técnica Judiciária do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás e sou formada em... nada. Isso mesmo. NA-DA. Ainda. Essa é a parte em que todos fazem a mesma cara e a mesma observação: "Mas você passou num concurso desse sem ser formada em direito ou coisa alguma?". Pois é. Sempre fui boa aluna, sempre tirei boas notas na escola, sempre gostei de estudar, aliás, sempre gostei de aprender, de adquirir conhecimentos, de superar meus limites. Para passar em concurso você não precisa ser nerd, ter um Q.I. altíssimo ou devorar um vade mecum por dia, você só precisa gostar de desafios. E ser aprovada no TRE sempre foi o meu.  

Pois bem. Quando terminei o 3º ano do ensino médio e estava me preparando para o vestibular, em 2011, saiu o edital do concurso dos Correios e, com o empurrão da minha mãe e da minha família, resolvi tentar. Deu certo. Passei dentro das vagas. Assim que comecei a trabalhar, percebi que aquele deveria ser só o meu primeiro degrau e tomei a decisão de estudar para outros concursos. A prova do TRE-PE estava prestes a acontecer, então peguei material com um colega e meti a cara na legislação eleitoral. Como é difícil ler todo aquele “juridiquês” pela primeira vez e só entender uma linha de um parágrafo com dez! Mas peguei gosto pela coisa - mais ainda pela atrativa remuneração - e decidi que eu merecia e que eu conseguiria ver meu nome na lista de aprovados um dia. Daí então não parei mais.  

Como todo mundo, tive meus altos e baixos, passei por fases de muito foco e dedicação, por outras de desânimo e cansaço. Eu trabalhava o dia inteiro, perdia umas 3 horas no trajeto casa-trabalho todos os dias, então eu precisava aproveitar ao máximo o tempo que eu tinha disponível para estudar e, mais, CRIAR oportunidades para estudar. Acho que a maior parte dos conhecimentos que adquiri ao longo desse tempo "entrou no meu juízo" enquanto eu estava no ônibus indo trabalhar, lutando para não cochilar (cedo da manhã, cansada e lendo um texto chato pra c*... não era fácil!) e sendo a pessoa mais antipática do mundo, tentando evitar que alguém puxasse assunto comigo e atrapalhasse minha concentração.Concurseiro é bicho chato. 

Meu caderno de resumos foi um dos meus melhores amigos todo esse tempo e estava sempre na minha bolsa para ser consultado assim que eu tivesse um tempinho. Parece brincadeira, mas sou capaz de lembrar a cor da caneta que grifava as palavras-chaves dos meus resumos e o formato em que se organizavam meus mapas mentais. Até pouco tempo, "post-its" com prazos, definições e explicações sobre os principais assuntos do edital enfeitavam o mural do meu quarto (não subestime sua memória fotográfica). 

Como já deu pra perceber, tempo não era algo que eu tinha sobrando. Só me restavam as noites e os fins de semana. A última coisa que alguém quer fazer depois de um dia ou uma semana inteira de trabalho cansativo é estudar, né? Mas tudo é uma questão de motivação. Então eu pensava: "Eu não gosto de trabalhar nos Correios. Eu quero fazer faculdade, mas não tenho dinheiro pra pagar mensalidade. Eu preciso passar em outro concurso. URGENTE!". 

Eu queria mesmo compor o quadro do TRE. Por isso, resolvi que faria prova em todos os estados, se necessário, até alcançar meu objetivo. Em 2013, saiu o edital do TRE-RO. Lembro que eu já estava deitada na cama pronta pra dormir quando vi a notícia sobre a prova. Demorei a pegar no sono depois disso. Eu enxerguei ali a oportunidade que eu precisava pra investir tudo que eu tinha. Seriam dois meses para me preparar dali em diante. Marquei férias para poder estudar uns dias antes da prova e ir fazê-la. Teve uma greve dos Correios nesse período. Então tive muitos dias inteiros para me dedicar exclusivamente ao meu sonho. Minha rotina era acordar, comer e estudar. Intervalo pra comer e voltar a estudar. Até não aguentar mais e ir dormir. Era cansativo, mas era prazeroso. A cada dia eu sentia que estava mais perto de alcançar meu objetivo. E quanto mais eu aprendia, mais eu tinha sede por aquilo. A sensação de finalmente entender termos jurídicos que antes pareciam hieróglifos é gratificante. Diria até que mexe com a autoestima. Enfim, fiquei em 45º lugar nesse certame. Me convenci de que, se eu continuasse nesse caminho, a aprovação era só uma questão de tempo. 

Mas, como já disse, eu estava desesperada pra sair logo dos Correios, então decidi que faria alguns concursos intermediários. Foi quando fiz o da UFPE e passei. Meu cargo era de Assistente em Administração, o trabalho era infinitamente melhor que o meu anterior e me proporcionava mais tempo e disposição para me dedicar ao que eu realmente queria. Pronto. Eu estava com a faca e o queijo na mão: tempo, material de qualidade e a determinação de sempre. 

Mas, "tinha uma pedra no meio do caminho". Na verdade, algumas, que eu fui juntando por alguns anos e que resolveram se transformar numa grande barreira bem naquele momento. Toda a minha ansiedade, a minha insegurança e o meu medo por tanto tempo cuidadosamente disfarçados - finalmente, tinham sido revelados. A síndrome do pânico tomou conta de mim e tudo parecia não fazer mais sentido algum. 

Peço licença para escrever algumas linhas sobre esse capítulo da minha vida, pois, neste momento, talvez alguém que está lendo este texto (espero que tenha alguém!) esteja passando por algo parecido, ou conheça alguém nessa situação e, também, porque precisamos acabar com essa hipocrisia de que somos imbatíveis e que doença psicológica é coisa de gente fraca ou de gente doida. 

Eu sentia medo. Medo de estar com muita gente por perto. De ficar sozinha. De ficar doente. De ir ao supermercado. De esperar. Do passado. Do futuro... Saiu o edital do TRE-GO, mas eu estava com muito medo. Medo de viajar pra fazer a prova. Medo de não conseguir fazer a prova. Medo de não ser aprovada. Medo do julgamento das pessoas. Medo de decepcionar a mim mesma.  

Confesso que não consegui, nem de longe, estudar para esse concurso como eu gostaria e deveria. Dormir era difícil. Acordar era ainda mais. Já começava o dia angustiada, ansiosa, com um turbilhão de pensamentos perturbando minha paz. Era mais forte que eu, como são todas essas doenças que nós (me incluo porque só mudei meu ponto de vista quando sofri o "mal" na pele) insistimos em achar que são puro capricho de gente que quer chamar atenção. Precisei iniciar, após muita resistência, tratamento medicamentoso - com todos aqueles remedinhos tarja preta mesmo. Isso não é motivo de vergonha, mas sei que algumas pessoas vão me olhar com certa estranheza ao saber disso agora. Foda-se. 

Enfim, os medicamentos foram fazendo efeito aos poucos, procurei algumas terapias alternativas pra me ajudar a relaxar (pedalar, ouvir música alta, ficar com a família...) e continuei meus estudos até a véspera de viajar pra fazer a prova. Aproveitei pra descansar um pouco nos dias que antecederam o fatídico dia e fui lá com a pouca coragem que me restava. Junto comigo, estava a minha mãe, que só não entrou na sala pra responder as questões por mim porque o CESPE não deixou claro no edital se podia. Mas ela estava lá, do lado de fora do prédio, me esperando pra me dar aquele abraço cheio de esperança quando eu cumprisse a minha missão.  

Então era isso. Eu não podia decepcioná-la e sair correndo, jogar tudo pro alto e tirar todo aquele peso da responsabilidade de ser bem sucedida nessa empreitada.  

Que bom que eu suportei. 

Que bom que eu consegui.  

Que bom que existe a minha mãe. 

E hoje estou aqui, gente. No Goiás. Comendo pequi (sqn). Consegui meu tão sonhado cargo no TRE e garanto pra vocês que todo o esforço foi muito válido. Apesar de estar distante da minha terra, onde ficou toda a minha família, estou muito feliz. Sei que tudo tem um preço e uma razão. Tenho certeza que, em breve, estarei novamente junto de todos aqueles que torceram para que hoje eu estivesse aqui, mas que desejam me ter de volta lá. 

Espero que meu "testemunho" sirva de inspiração aos que acham que passar em concurso é muito difícil e muito concorrido. Vocês estão certos! Tem que estudar até a bunda ficar quadrada! Mas não é impossível! Não vou entrar aqui no mérito de qual material utilizei na minha preparação, nem de quantas horas por dia eu estudava porque tudo isso é muito relativo e cabe a cada um achar seu próprio jeito de aprender e de tornar o momento de estudo mais leve e prazeroso. Mas, se quiserem dicas dessa natureza, sei quem pode lhes ajudar: meu amigo Leon! hahaha. Vocês estão em boas mãos. 

Leon, obrigada pelo espaço.

Tamo junto!

Galera, até outra hora!

Fiquem com Deus.