Como é trabalhar no INSS?

Talvez seja um pouco tarde para tratar sobre o assunto, uma vez que estamos há menos de dois meses da prova e, imagino que, ainda que eu dissesse “olha... trabalhar no INSS é uma merda, desiste”, uma pessoa que já está estudando há meses, ou até anos, não largaria o relacionamento sério com os livros logo agora. Já o inverso pode ocorrer, alguém que ler esse texto pode se identificar com o que é o trabalho e “dar um gás” nessa reta final. Portanto, seguindo a máxima “antes tarde do que nunca”, escrevo essas palavras aos que estão flertando com o cargo de Técnico do Seguro Social.

Caso você esteja acessando este blog pela primeira vez: oi, meu nome é Leon, trabalho no INSS há três anos e estou lotado na APS Caruaru – PE. Apesar de ter saído do atendimento recentemente (bem recentemente mesmo [semana passada]), trabalhei os últimos anos na concessão de benefícios previdenciários.

Então... como é trabalhar no INSS? Vamos começar pelo começo. Peço desculpas aos mais ansiosos e que querem informações mais objetivas, mas, optei por escrever este texto associando à minha história, até para que fique mais fácil entender a minha perspectiva sobre o trabalho e que, pessoas com uma trajetória parecida possam se identificar. Mas, não se preocupem, depois lanço a apostila: “Resumo de como é o trabalho no INSS” hehehe.

Eu não fui aprovado dentro das vagas no concurso de 2012, fiquei em segundo lugar e só havia uma oportunidade de imediato para a agência do INSS em Caruaru (diferente do concurso deste ano, em 2012 as vagas foram distribuídas por agências). Portanto, para mim só havia uma expectativa de direito; para ser convocado dependia de haver nomeação de candidatos fora das vagas, o que ocorreu após um ano. Então, após esse período na incerteza de ser ou não chamado para trabalhar, finalmente saiu a nomeação no Diário Oficial da União, acompanhada de muitos gritos de alegria e cachaça com os amigos.

O INSS foi o meu primeiro concurso e o meu primeiro emprego, não sei se algumas pessoas que estão lendo este texto também estudam para conseguir o primeiro emprego, mas caso haja alguém nessa situação por aí, eu imagino tudo o que está passando na tua cabeça. É totalmente natural que haja um frio na barriga quando se está prestes a fazer algo pela primeira vez, mas, quando a pessoa já tem problemas de ansiedade (eu), todas essas emoções são elevadas ao quadrado. Eu ficava pensando em tudo, cada detalhe, desde o horário de trabalho, até com que roupa eu devia ir vestido; o que eu iria falar quando chegasse lá no primeiro dia; ficava pensando no que iriam me colocar para fazer; tinha medo de nunca aprender o trabalho, ou que eu fosse ser testado pelos colegas com várias perguntas para ver se eu tinha aprendido mesmo a legislação previdenciária durante os estudos. Lembro que meu coração devia estar batendo umas duzentas vezes por minuto quando eu estava chegando no trabalho, as mãos pareciam pedras de gelo, hehe.

O primeiro dia é o pior, você não conhece ninguém, tudo é novidade e vai ser bombardeado de informações. Não se preocupem em entender alguma coisa, provavelmente você só vai absorver algo se for superdotado ou se a pessoa que estiver te passando as informações for uma excelente comunicadora. São inúmeros sistemas: CNIS, PRISMA, SIBE, SABI, HIPNET, SIPPS, PLENUS... cada um com uma senha diferente e uma interface que você não deve estar habituado. Aí você associa esse turbilhão de informações e sentimentos a uns trinta rostinhos te olhando com uma carinha de esperança de serem chamados logo (lembre-se que você vai trabalhar com atendimento, pelo menos nos primeiros anos).

São inúmeras as funções que um técnico do seguro social pode assumir, mas, no começo, há 99% de chance de você ficar na concessão dos benefícios previdenciários e do BPC LOAS. Se você for lotado em uma APS de interior, os benefícios que mais irá atender serão os rurais (segurados especiais), então já vá procurando saber em quanto tempo nasce um pé de milho e quantas espigas dão, porque o servidor entrevista o requerente do benefício para descobrir se ele é agricultor mesmo hehe.

Mas a espécie de benefício que você irá trabalhar vai depender da agência. No meu caso, fiquei em uma APS relativamente grande e, apesar de ser uma cidade do interior, Caruaru é uma das maiores cidades de Pernambuco e tem 300 mil habitantes, portanto, a demanda é dividida, metade dos requerimentos são de benefícios urbanos e a outra metade de benefícios rurais. O BPC LOAS também é muito solicitado e é uma das principais demandas da APS.

Não sei se haverá uma capacitação com os servidores convocados no concurso que será realizado neste ano, mas no que eu fiz, não houve. O treinamento é o seguinte: durante um mês você fica observando um servidor mais experiente realizar os atendimentos, ele vai te falar o básico, sistemas, procedimentos... depois você fica atendendo com alguém te ajudando e depois está por conta própria. Nem se iluda achando que esse mês de “treinamento” vai ser o suficiente, você vai se enrolar nos atendimentos, vai precisar perguntar (e perguntar muito), peça ajuda ao chefe de benefícios sempre que precisar, não se acanhe em perguntar, a função social do novato é ficar perdido, atormentado e cheio de dúvidas mesmo.

A responsabilidade pela concessão ou indeferimento de um benefício será sua e exclusivamente sua (nem imagine que você só fará receber o processo e passar para algum analista resolver ou que só vai dar informações), todo dia vão passar milhares de reais pela sua mão (não de forma física, claro. A não ser que você esteja fazendo algo errado, mas recomendo que não faça, salvo se tiver interesse em cair na 100ª fase da Operação Lava Jato), então, é preciso estar muito seguro do que está fazendo, caso contrário correrá o risco de responder a algum processo administrativo.

No tocante a carga horária, isso vai variar se a sua agência trabalha em turno estendido ou não. Na APS Caruaru trabalhamos seis horas, são dois turnos: um de sete horas às treze e outro de treze às dezenove horas. Até a semana passada trabalhei no turno vespertino, mas mudei para o turno da manhã. São seis horas bem puxadas, mas o bom é que a jornada de trabalho vai te permitir fazer outras coisas.

Quanto a como ir vestido, te deixam bem à vontade em relação a isso. Só não pode ir de bermuda e chinelo. Parece um pouco desnecessário dizer que não pode ir trabalhar assim, mas por incrível que pareça, caso os gerentes não dissessem, haveriam pessoas que iriam (olhe que eu até poderia ser uma dessas pessoas, odeio andar arrumado).

Depois de um tempo as coisas vão melhorando, começando pelo salário, já que quando você entra não recebe os cem pontos da GDASS (essa gratificação é responsável por mais da metade do teu salário), depois de seis meses, quando for avaliado, passa a receber os cem pontos (você tem que se esforçar muito para não conseguir receber os cem pontos, todo mundo recebe, a não ser que você seja um verdadeiro parasita. Não seja). A melhor parte é que quando você passa a receber os cem pontos da GDASS vem todo o retroativo, dá uns cinco mil reais, no meu caso gastei com um monte de besteira (é bom planejar antes o que vai fazer com o dinheiro para não fazer que nem eu).

Para você ficar afiado mesmo, vai levar mais ou menos um ano. Tem coisas que não adianta estudar, tem que ser na prática (você não vai aprender a fazer uma entrevista rural em pouco tempo, estudando por um livro, vai precisar praticar para desenrolar).

Então, em relação às atribuições é isso. O técnico do seguro social trabalha com atendimento, chamando senhas, concedendo benefícios, dando informações. Não vou mentir, lidar com seres humanos é complicado e estressante, porém, ao mesmo tempo é gratificante e divertido (caso o contrário não nos relacionaríamos, não é?). Apesar de não ter uma remuneração tão expressiva, não se engane, o trabalho de técnico do seguro social é extremamente importante, são vidas de pessoas que estão nas tuas mãos, um sim ou um não pode fazer toda diferença para aquele ser humano que está ali na tua frente. Não raramente você verá pessoas chorando após alguma notícia que der. Por isso, dediquem-se ao trabalho da mesma forma que estão se dedicando para entrar, não queira ser mais um, busque fazer a diferença, o INSS precisa de sangue novo, de pessoas dispostas a dar o seu melhor. A sociedade precisa disso.

Por fim, também me perguntam bastante sobre a perspectiva de crescimento dentro da autarquia. Não vejo grandes possibilidades, as gratificações das funções do INSS estão muito aquém das responsabilidades assumidas, em minha opinião não compensa assumi-las, mas isso varia de cada um. Por exemplo, um gerente de uma APS tipo A (maior demanda) ganha mais ou menos uns mil reais pela função, mas em contrapartida trabalha 8h, precisa gerir uns trinta servidores e uma demanda de umas trezentas pessoas/dia.

Bem gente, é isso! Já estou cansado de escrever e imagino que vocês estejam cansados de ler. Obviamente que esse texto não esgotará o assunto de como é trabalhar no INSS (e nem tinha esse objetivo), então, caso tenham outras dúvidas sobre o trabalho, podem deixar nos comentários, responderei quando der.

Abraços e bons estudos!